Sabor e aroma não são os únicos requisitos que fazem os olhos do mundo brilhar para o café brasileiro. O método de produção nas lavouras daqui tem tradição em práticas sustentáveis, uma das grandes exigências do novo público consumidor composto pelas gerações Z e do milênio. O país que mais produz café no mundo lidera em quantidade, qualidade e também se mostra muito avançado no que diz respeito à bioeconomia cafeeira.
O assunto que já estava em alta ganhou ainda mais destaque a partir das discussões da COP27 que ocorreu em novembro de 2022, no Egito. Mais de 190 países participaram do debate sobre mudanças climáticas e mitigação das emissões dos gases de efeito estufa (GEE), e a bioeconomia agrícola é mais uma vez considerada frente estratégica para o alcance das metas ambientais globais.
Como uma potência do agronegócio, o Brasil tem posição importante na conquista de uma economia sustentável, uma vez que a agricultura vai além de deixar de emitir GEE, tendo potencial para sequestrar esses poluentes por meio de boas práticas agrícolas que conservam o solo e o mantém como reservatório de carbono. De fato, a produção de café brasileira já é carbono zero em seu método tradicional, mas pode se tornar carbono negativo com a adoção das práticas certas.
Para o cafeicultor, isso significa entregar um produto ainda mais valorizado no mercado, uma vez que as novas gerações, correspondentes a 4 bilhões de pessoas (metade da população mundial), ditam novas tendências de consumo, tendo como preferência um café sustentável em todas as etapas da cadeia de produção, com rastreabilidade.
A cafeicultura brasileira já é exemplo de sustentabilidade, comparando o sistema daqui com as práticas verificadas no exterior, e ampliar essa capacidade significa aumentar a rentabilidade do produtor rural e colocar o Brasil como expoente de destaque no combate às mudanças climáticas.
O que é sustentabilidade no agro?
A produção de um café sustentável engloba muito mais do que práticas de manejo integrado contra pragas, doenças e nematoides. Ainda que estratégias para o aumento da produtividade, como conservação das propriedades do solo, uso eficiente dos recursos hídricos e eficiência do uso da terra estejam alinhadas à sustentabilidade, o conceito vai um pouco além disso, pois considera também aspectos sociais, além de ambientais e econômicos.
Atualmente, a sustentabilidade nas produções se traduz pelos princípios do ESG (Environmental, Social and Governance), traduzidos para o português como ambiental, social e de governança. O meio corporativo já se movimenta para absorver o ESG, que define as boas práticas para que um negócio seja consciente nos três quesitos e se enquadre nos padrões da bioeconomia.
A agricultura é um dos setores mais influentes nesse quesito, pois lida diretamente com a natureza e está nas etapas iniciais da cadeia produtiva, fornecendo a matéria-prima para diversos subprodutos industriais. Uma agricultura sustentável possibilita mudanças reais em todo o processo de produção, afinal, a bioeconomia só é possível se os princípios da sustentabilidade e do ESG estiverem presentes desde a muda plantada até o produto final chegar às mãos do consumidor.
Levando tudo isso em consideração, estudiosos percebem a produção de café no Brasil como um exemplo de sustentabilidade, por conta das seguintes características:
- segue normas rigorosas em relação ao uso correto e seguro de defensivos agrícolas e outros insumos;
- promove a segurança e os direitos do trabalhador, com base nos princípios dos direitos humanos;
- tem sistema avançado de reciclagem de embalagens, com logística reversa amplamente difundida e estruturada;
- pratica o uso correto da água para irrigação;
- respeita os limites legais de desmatamento, alcançando altas produtividades em uma mesma área ao aplicar estratégias de eficiência do uso do solo.
Diante disso tudo, o maior produtor de café do mundo não entrega somente qualidade, sendo referência em cafés especiais e alcançando impressionantes taxas de exportação e vendas, mas também posiciona-se como sustentável, agregando valor aos grãos que saem das fazendas, o que significa muito mais lucratividade e rentabilidade ao cafeicultor.
Como produzir um café sustentável?
Aplicar os critérios ESG nas operações agrícolas é o caminho para alcançar um café sustentável na atualidade. O consumidor está atento aos padrões de sustentabilidade no momento da escolha de seu café cotidiano, de maneira que o agricultor que segue as boas práticas tem vantagem no mercado.
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Critérios ambientais
Na dimensão ambiental, o uso racional da água, a conservação da vegetação nativa, a promoção da biodiversidade, a manutenção da cobertura do solo nas entrelinhas do café e o uso de fontes renováveis de energia são as práticas que se destacam para demonstrar que a produção não gera impactos ambientais e está comprometida com a questão das mudanças climáticas.
Estudos desenvolvidos no setor avaliam ainda a quantidade de carbono estocado no solo da área a ser cultivada, a partir de amostras retiradas em até um metro de profundidade, além de verificarem o teor de biomassa da planta. Ambos os critérios são indicativos de que o manejo conservacionista está surtindo resultados positivos no ambiente, o que classifica o café como carbono neutro ou negativo, a depender da quantidade de gás estocada em comparação com o que é emitido ao longo do processo.
As boas práticas na cafeicultura brasileira têm demonstrado que há a geração de adicionalidade no sequestro de carbono, uma vez que a produção retém mais CO2 equivalente no solo e na planta do que emite na atmosfera. O manejo tradicional aplicado no Brasil já é carbono neutro em muitos casos, mas a otimização das operações baseadas no ESG aumenta esse potencial, classificando a produção como carbono negativo.
Critérios de governança
Estudos recentes demonstram que, na média das propriedades de café avaliadas que adotam as boas práticas, 10,5 toneladas de CO2 equivalente é sequestrado ao ano (contra 1,63 t em propriedades de agricultura tradicional), o que representa um incremento no balanço negativo de carbono, comprova a eficiência do manejo sustentável e coloca a cafeicultura brasileira como estratégica na mitigação das mudanças climáticas.
Enquanto solo e plantas retém anualmente 12,35 toneladas de CO2eq por hectare, somente 1,74 tonelada é emitida durante as operações de pulverização, uso de combustível, de eletricidade e de calcário. Dessa forma, inclui-se aí o princípio de governança, além do ambiental, pois a gestão da fazenda gerencia as operações visando a sustentabilidade.
Outro fator de destaque envolvendo ambiente e gestão é a preservação da vegetação: a cada hectare de café cultivado, uma média de 50 toneladas de carbono são estocados nas APPs (Áreas de Preservação Permanente). De fato, a quantidade de florestas que são mantidas em pé pelos cafeicultores dentro de suas propriedades é muito significativa, sendo este outro fator-chave para a produção sustentável.
Critérios sociais
A produção de café nas fazendas brasileiras também apresenta avanços na questão social. Algumas características positivas relacionadas a esse princípio são:
- a cafeicultura em sua importância econômica recebe incentivos financeiros que impulsionam a fixação do pequeno produtor no campo, parcela que representa 72% dos cafeicultores brasileiros (cultivo de café em áreas com até 20 hectares);
- comunidades que vivem em áreas com cultivo de café nos entornos são beneficiadas e apresentam índice de IGHM elevado. Em Minas Gerais, maior Estado produtor de café do Brasil, a proporção que se verifica é que quanto maior a área cultivada nos municípios, maior o índice.
Tais fatores não somente estão alinhados à sustentabilidade local, mas também aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), algo muito valorizado pelo mercado externo, agregando valor ao produto.
Bioeconomia cafeeira
Clima seco, geadas intensas e chuvas de granizo são os fatores que marcaram a cafeicultura entre 2021 e 2022. Os últimos dois anos foram repletos de desafios climáticos que reduziram o potencial produtivo da cultura. Ainda assim, as perspectivas de produção e comércio são satisfatórias e mantêm o Brasil à frente no mercado internacional.
As boas práticas agrícolas geram adicionalidade na captura de carbono e também protegem a cultura contra adversidades climáticas e ambientais, conferindo resiliência às plantas, por isso, o Brasil assegura atender à demanda por café em quantidade e qualidade, mesmo em períodos críticos.
Essa é a base da bioeconomia: seguir padrões de qualidade e sustentabilidade em todas as etapas de produção que garantam o abastecimento do mercado e a rentabilidade do cafeicultor. A cafeicultura nacional apresenta números muito significativos, tanto em produção quanto em mitigação das emissões de GEE, de maneira a proporcionar a bioeconomia necessária para sustentar a demanda e impactar positivamente o meio ambiente.
Assim, o setor acena para uma economia mundial mais verde, possibilitando que o Brasil se beneficie com créditos destinados a produções que seguem os princípios do ESG ao entregar para as indústrias e para o consumidor produtos sustentáveis e demonstrar que as boas práticas contribuem para diminuir as adversidades climáticas e para alcançar produções que proporcionem bons resultados econômicos ao agricultor.
Comportamento do consumidor de café
As novas gerações ditam as tendências de consumo a partir de mudanças no comportamento da sociedade. Essas novidades se devem ao fato de que pelo menos ⅔ da juventude já foi afetada por fenômenos climáticos extremos, levando a adoção de hábitos mais sustentáveis, cobrança de ações governamentais, influência em regulamentações e exigências no mercado. Tudo isso sempre atrelado a mudanças climáticas e aquecimento global.
Pesquisas de comportamento do consumidor de café mostram que essas características moldam novas tendências a partir de uma geração que recebe a maior transferência de capital já registrada, o que confere um grande peso dessa população no que tange à economia.
Valorização dos critérios ESG e preferência por produtos que geram impactos positivos ao meio ambiente e à sociedade são os dois fatores principais na escolha do café por consumidores que não se importam em pagar mais, desde que tenham a comprovação de que aquela marca está realmente comprometida com a sustentabilidade.
Os consumidores estão atentos à questão climática e cobram por ações que reduzam as emissões de GEE. Diante disso, tornar evidente que a cafeicultura brasileira explora a fundo a capacidade da agricultura em reverter o cenário climático é uma ação poderosa para valorizar o cafeicultor que investe em boas práticas.
Essas tendências não perdem força, mesmo diante das dificuldades econômicas que têm sido verificadas no Brasil e no mundo. Por isso, sustentabilidade e ESG são o foco de investidores, que os entendem como os caminhos para o sucesso financeiro em curto prazo.
Valorização do produto e aumento da rentabilidade do cafeicultor
Os aspectos ambientais, sociais e econômicos descritos ao longo deste artigo ampliam os critérios de sustentabilidade para o café, algo que o cafeicultor brasileiro já tira de letra, que permite elevar os preços por saca e alcançar uma melhor remuneração para aqueles que se diferenciam pela qualidade.
A definição do preço do café está diretamente relacionada a critérios qualitativos. Para a precificação, considera-se o valor atribuído a um grão de máxima qualidade e, então, vão sendo aplicados descontos para cada característica que não atende aos padrões.
Cultivo, colheita e processamento são determinantes para essa qualidade, assim como características da planta e do ambiente, entre eles: variedade genética, fertilidade do solo, clima, pressão de pragas e de doenças.
Instituições especializadas emitem certificações ao classificar a qualidade e a sustentabilidade de cada produção, fatores que agregam valor ao café diante de um mercado extremamente exigente e competitivo. A rastreabilidade, da lavoura à indústria, confere autenticidade ao produto e não é algo que exige muito esforço do cafeicultor brasileiro, pois, como comentado anteriormente, o método de produção vigente já respeita grande parte dos critérios de certificação.
O foco é atender as necessidades do consumidor sem agredir o meio ambiente ou comprometer as próximas gerações. Para isso, há uma regulamentação que inclui:
- técnicas de plantio;
- manejo da lavoura;
- operação de colheita;
- estrutura de armazenamento;
- técnicas de torrefação;
- condições de trabalho dos colaboradores.
Credibilidade e novas oportunidades de negócios é o que aguarda o agricultor de cafés sustentáveis, que pode se beneficiar com um retorno financeiro 30% maior (ágio médio).
Nucoffee Sustentia oferece os recursos para a produção de café sustentável
O cafeicultor que quiser produzir cafés sustentáveis ou comprovar a sustentabilidade de sua produção tem a opção de firmar parceria com o Nucoffee Sustentia. O programa visa otimizar as práticas de manejo tradicionais para alinhá-las a critérios ambientais, ajudando o cafeicultor a melhorar seus processos, sem deixar de fazer o que já conhece.
O Nucoffee Sustentia atua nas seguintes frentes:
- assistência técnica;
- treinamento de capacitação de pessoal;
- apoio nas operações;
- auditoria externa.
Com isso, o cafeicultor tem maior controle de sua produção e entrega um produto mais genuíno ao consumidor final, podendo demonstrar com assertividade que os processos seguem as boas práticas agrícolas.
No vídeo a seguir, há o registro de um case de sucesso do Nucoffee Sustentia, que proporcionou à fazenda benefícios diretos e indiretos e agregou valor ao produto, oferecendo à gestão financeira os caminhos para adotar os princípios ESG:
A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, com o objetivo de impulsionar o agronegócio brasileiro com qualidade e inovações tecnológicas.
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